Animais peçonhentos são reconhecidos como aqueles que produzem ou modificam algum veneno e possuem algum aparato para injetá-lo na sua presa ou predador. Os principais animais peçonhentos que causam acidentes no Brasil são algumas espécies de serpentes, de escorpiões, de aranhas, de lepidópteros (mariposas e suas larvas), de himenópteros (abelhas, formigas e vespas), de coleópteros (besouros), de quilópodes (lacraias), de peixes, de cnidários (águas-vivas e caravelas), entre outros. Os animais peçonhentos de interesse em saúde pública podem ser definidos como aqueles que causam acidentes classificados pelos médicos como moderados ou graves.
Os acidentes por animais peçonhentos e, em particular, os acidentes ofídicos foram incluídos, pela Organização Mundial da Saúde, na lista das doenças tropicais negligenciadas que acometem, na maioria dos casos, populações pobres que vivem em áreas rurais. Em agosto de 2010, o agravo foi incluído na Lista de Notificação de Compulsória (LNC) do Brasil, publicada na Portaria Nº 2.472 de 31 de agosto de 2010 (ratificada na Portaria Nº 104, de 25 de janeiro de 2011). Essa importância se dá pelo alto número de notificações registras no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), sendo acidentes por animais peçonhentos um dos agravos mais notificados.
A partir das análises dos dados do SINAN, a vigilância epidemiológica é capaz de identificar o quantitativo de soros antivenenos a serem distribuídos às Unidades Federadas, além de determinar pontos estratégicos de vigilância, estruturar as unidades de atendimento aos acidentados, elaborar estratégias de controle desses animais, entre outros.
Instrumentos para registro e análise:
Ficha de notificação/investigação
Protocolo e Manejo
- Acidentes_Animais_Peconhentos_e_Venenosos
- MS-Protocolo-clinico-Acidente-coral-Elapidae
- MS-Protocolo-clinico-Acidente-aranha-Phoneutria
- MS-Protocolo-clinico-Acidente-aranha-Loxosceles
O que são animais peçonhentos?
Animais peçonhentos são aqueles que produzem peçonha (veneno) e têm condições naturais para injetá-la em presas ou predadores. Essa condição é dada naturalmente por meio de dentes modificados, aguilhão, ferrão, quelíceras, cerdas urticantes, nematocistos entre outros.
Os animais peçonhentos que mais causam acidentes no Brasil são algumas espécies de:
- serpentes;
- escorpiões;
- aranhas;
- lepidópteros (mariposas e suas larvas);
- himenópteros (abelhas, formigas e vespas);
- coleópteros (besouros);
- quilópodes (lacraias);
- peixes;
- cnidários (águas-vivas e caravelas).
Esses animais possuem presas, ferrões, cerdas, espinhos entre outros, capazes de envenenar as vítimas.
Acidentes por animais peçonhentos
Os acidentes por animais peçonhentos, especialmente os acidentes ofídicos, foram incluídos pela Organização Mundial da Saúde (OMS) na lista das doenças tropicais negligenciadas que acometem, na maioria das vezes, populações pobres que vivem em áreas rurais.
Além disso, devido ao alto número de notificações, esse agravo (acidentes por animais peçonhentos) foi incluído na Lista de Notificação Compulsória do Brasil, ou seja, todos os casos devem ser notificados ao Governo Federal imediatamente após a confirmação. A medida ajuda a traçar estratégias e ações para prevenir esse tipo de acidente.
O que são acidentes ofídicos?
Acidente ofídico ou ofidismo é o quadro de envenenamento decorrente da picada de serpentes. No Brasil, as serpentes peçonhentas de interesse em saúde pública pertencem às Famílias Viperidae e Elapidae.
Os acidentes estão divididos em quatro tipos:
- acidentes botrópicos (acidentes com serpentes dos gêneros Bothrops e Bothrocophias – jararaca, jararacuçu, urutu, caiçaca, comboia);
- acidentes crotálicos (acidentes com serpentes do gênero Crotalus – cascavel);
- acidentes laquéticos (acidentes com serpentes do gênero Lachesis – surucucu-pico-de-jaca);
- acidente elapídico (acidentes com serpentes dos gêneros Micrurus e Leptomicrurus – coral-verdadeira).
O quê cada uma dessas espécies pode causar
Gênero | Espécies | Informação complementar | Sintomas |
Acidente botrópico (Bothrops e Bothrocophias) | Jararaca, jararacuçu, urutu, caiçaca, comboia | Grupo que causa maioria dos acidente com cobras no Brasil, com 29 espécies em todo o território nacional, encontradas em ambientes diversos, desde beiras de rios e igarapés, áreas litorâneas e úmidas, agrícolas e periurbanas, cerrados, e áreas abertas. | A região da picada apresenta dor e inchaço, às vezes com manchas arroxeadas (edemas e equimose) e sangramento pelos pontos da picada, em gengivas, pele e urina. Pode haver complicações, como grave hemorragia em regiões vitais, infecção e necrose na região da picada, além de insuficiência renal. |
Acidente crotálico (Crotalus) | Cascavel | São identificadas pela presença de um guizo, chocalho ou maracá na cauda e têm ampla distribuição em cerrados, regiões áridas e semiáridas, campos e áreas abertas. | Na picada por cascavel, o local da picada muitas vezes não apresenta dor ou lesão evidente, apenas uma sensação de formigamento; dificuldade de manter os olhos abertos, com aspecto sonolento (fácies miastênica), visão turva ou dupla, mal-estar, náuseas e cefaleia são algumas das manifestações, acompanhadas por dores musculares generalizadas e urina escura nos casos mais graves. |
Acidente laquético (Lachesis) | Surucucu-pico-de-jaca | A pico-de-jaca é a maior serpente peçonhenta das Américas. Seu habitat é a floresta Amazônica e os remanescentes da Mata Atlântica. | Quadro semelhante ao acidente por jararaca, a picada pela surucucu-pico-de-jaca pode ainda causar dor abdominal, vômitos, diarreia, bradicardia e hipotensão. |
Acidente elapídico (Micrurus e Leptomicrurus) | Coral-verdadeira | São amplamente distribuídos no país, com várias espécies que apresentam padrão característico, com anéis coloridos. | O acidente por coral-verdadeira não provoca, no local da picada, alteração importante. As manifestações do envenenamento caracterizam-se por dor de intensidade variável, visão borrada ou dupla, pálpebras caídas e aspecto sonolento. Óbitos estão relacionados à paralisia dos músculos respiratórios, muitas vezes decorrentes da demora na busca por socorro médico. |
Principais animais peçonhentos
Abaixo, estão os principais animais peçonhentos, com as respectivas descrições dos sintomas, em caso de envenenamento, tratamento, o quê fazer e o quê não fazer.
Como prevenir acidentes com animais peçonhentos
O risco de acidentes com animais peçonhentos pode ser reduzido tomando algumas medidas gerais e bastante simples para prevenção:
- usar calçados e luvas nas atividades rurais e de jardinagem;
- examinar calçados, roupas pessoais, de cama e banho, antes de usá-las;
- afastar camas das paredes e evitar pendurar roupas fora de armários;
- não acumular entulhos e materiais de construção;
- limpar regularmente móveis, cortinas, quadros, cantos de parede;
- vedar frestas e buracos em paredes, assoalhos, forros e rodapés;
- utilizar telas, vedantes ou sacos de areia em portas, janelas e ralos;
- manter limpos os locais próximos das casas, jardins, quintais, paióis e celeiros;
- evitar plantas tipo trepadeiras e bananeiras junto às casas e manter a grama sempre cortada;
- limpar terrenos baldios, pelo menos na faixa de um a dois metros junto ao muro ou cercas.
Proteção individual para prevenir acidentes com animais peçonhentos
- No amanhecer e no entardecer, evitar a aproximação da vegetação muito próxima ao chão, gramados ou até mesmo jardins, pois é nesse momento que serpentes estão em maior atividade.
- Não mexer em colmeias e vespeiros. Caso estejam em áreas de risco de acidente, contatar a autoridade local competente para a remoção.
- Inspecionar calçados, roupas, toalhas de banho e de rosto, roupas de cama, panos de chão e tapetes antes de usá-los.
- Afastar camas e berços das paredes e evitar pendurar roupas fora de armários.
Proteção da população para prevenir acidentes com animais peçonhentos
- Não depositar ou acumular lixo, entulho e materiais de construção junto às habitações.
- Evitar que plantas trepadeiras se encostem às casas e que folhagens entrem pelo telhado ou pelo forro.
- Não montar acampamento próximo a áreas onde normalmente há roedores (plantações, pastos ou matos) e, por conseguinte, maior número de serpentes.
- Evitar piquenique às margens de rios, lagos ou lagoas, e não encostar-se a barrancos durante pescarias ou outras atividades.
- Limpar regularmente móveis, cortinas, quadros, cantos de parede e terrenos baldios (sempre com uso de EPI).
- Vedar frestas e buracos em paredes, assoalhos, forros e rodapés.
- Utilizar telas, vedantes ou sacos de areia em portas, janelas e ralos.
- Manter limpos os locais próximos das residências, jardins, quintais, paióis e celeiros.
- Controlar roedores existentes na área e combater insetos, principalmente baratas (são alimentos para escorpiões e aranhas).
- Caso encontre um animal peçonhento, afaste-se com cuidado e evite assustá-lo ou tocá-lo, mesmo que pareça morto, e procure a autoridade de saúde local para orientações.
Orientação ao trabalhador na prevenção de acidentes com animais peçonhentos
- Usar luvas de raspa de couro e calçados fechados, entre outros equipamentos de proteção individual (EPI), durante o manuseio de materiais de construção (tijolos, pedras, madeiras e sacos de cimento); transporte de lenhas; movimentação de móveis; atividades rurais; limpeza de jardins, quintais e terrenos baldios, entre outras atividades.
- Olhar sempre com atenção o local de trabalho e os caminhos a percorrer.
- Não colocar as mãos em tocas ou buracos na terra, ocos de árvores, cupinzeiros, entre espaços situados em montes de lenha ou entre pedras. Caso seja necessário mexer nesses lugares, usar um pedaço de madeira, enxada ou foice.
- Os trabalhadores do campo devem sempre utilizar os equipamentos de proteção individual (EPIs), como botas ou perneiras, evitar colocar as mãos em tocas, montes de lenha, folhas e cupinzeiros.
O que fazer em caso de acidente com animais peçonhentos
- Procure atendimento médico imediatamente.
- Informe ao profissional de saúde o máximo possível de características do animal, como: tipo de animal, cor, tamanho, entre outras.
- Se possível, e caso tal ação não atrase a ida do paciente ao atendimento médico, lave o local da picada com água e sabão (exceto em acidentes por águas-vivas ou caravelas), mantenha a vítima em repouso e com o membro acometido elevado até a chegada ao pronto socorro.
- Em acidentes nas extremidades do corpo, como braços, mãos, pernas e pés, retire acessórios que possam levar à piora do quadro clínico, como anéis, fitas amarradas e calçados apertados.
- Não amarre (torniquete) o membro acometido e, muito menos, corte e/ou aplique qualquer tipo de substancia (pó de café, álcool, entre outros) no local da picada.
- Especificamente em casos de acidentes com águas-vivas e caravelas, primeiramente, para alívio da dor inicial, use compressas geladas de água do mar (ou pacotes fechados de gelo – “cold packs” – envoltos em panos, se disponível). A remoção dos tentáculos aderidos à pele deve ser realizada de forma cuidadosa, preferencialmente com uso de pinça ou lâmina. Procure assistência médica para avaliação clínica do envenenamento e, se necessário, realização de tratamento complementar.
- Não tente “chupar o veneno”, essa ação apenas aumenta as chances de infecção local.
Diagnóstico e tratamento de acidentes com animais peçonhentos
O diagnóstico é realizado com base na identificação do animal causador do acidente. Em alguns casos, há recomendação de exame complementar. O tratamento é sintomático e com soro antiveneno, de acordo com cada espécie e com cada situação. Todos os tratamentos e atendimentos são oferecidos, de forma integral e gratuita, pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Dependendo dos sintomas, podem ser adotadas medidas para alívio da dor, como compressas mornas (acidentes por aranha-armadeira e viúva-negra). Havendo ou não melhora, o paciente deve ser levado ao serviço de saúde mais próximo para ser avaliada a necessidade de administração de soro específico.
Primeiros socorros em caso de acidentes com animais peçonhentos
Lavar o local da picada com água e sabão; não fazer torniquete ou garrote, não furar, cortar, queimar, espremer ou fazer sucção no local da ferida, nem aplicar folhas, pó de café ou terra para não provocar infecções; não ingerir bebida alcoólica, querosene, ou fumo, como é costume em algumas regiões do país; levar a vítima imediatamente ao serviço de saúde mais próximo para que possa receber o tratamento adequado em tempo.
Lista de hospitais – acidentes com animais peçonhentos
Abaixo seguem os estados, com as respectivas listas, nomes, endereços e telefones de hospitais que realizam atendimento com soroterapia para acidentes com animais peçonhentos. Em caso de emergência, chame imediatamente o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU 192) ou o Corpo de Bombeiros (193).
Utilização racional de antivenenos
Nos últimos anos foram registrados no Brasil cerca de 140 mil acidentes por animais peçonhentos, dentre serpentes, aranhas, escorpiões, lagartas, abelhas e outros animais em menor proporção.
O Ministério da Saúde, desde 1986, adquire toda a produção de antivenenos dos quatro produtores nacionais (Instituto Butantan, Instituto Vital Brazil, Fundação Ezequiel Dias e Centro de Produção e Pesquisa de Imunobiológicos). Mensalmente, o Ministério da Saúde distribui as cotas de antivenenos aos Estados, levando em consideração critérios epidemiológicos, que são as notificações de acidentes por animais peçonhentos no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN).
Tais antivenenos, utilizados de forma adequada, são a forma mais eficaz de neutralização da peçonha do animal causador do acidente. Para tanto, é de fundamental importância a disponibilização desses antivenenos em quantidade suficiente e em locais oportunos, visando-se diminuir o tempo decorrente entre o acidente e o atendimento médico adequado.
Atualmente, os laboratórios produtores de antivenenos no Brasil estão em processo de adequação às Boas Práticas de Fabricação (BPF) da ANVISA, razão pela qual a distribuição dos 9 (nove) antivenenos disponíveis no Brasil às UF’s está sendo feita de forma ainda mais criteriosa, tendo como base além dos critérios clínico-epidemiológicos, os estoques disponíveis no Central Nacional de Armazenamento e Distribuição de Imunobiológicos (CENADI).
Para atender à demanda, por serem soros de difícil fabricação, os protocolos clínicos de utilização dos soros antielapídico (SAEla), antiaracnídico (SAA) e antiloxoscélico (SALox) foram revisados e atualizados, conforme consta nos links abaixo.
Protocolo clínico para acidente por serpente da família Elapidae – “Coral Verdadeira”
Protocolo clínico para acidente por aranha do gênero Phoneutria – “Aranha Armadeira”
Protocolo clínico para acidente por aranha do gênero Loxosceles – “Aranha Marrom”
Situação epidemiológica
Série Histórica 1986-2018 de casos de acidentes por animais peçonhentos
Incidência de acidentes por animais peçonhentos. Brasil 2000-2018
Óbitos por animais peçonhentos. Brasil 2000-2018
Abelhas
Casos de acidentes por abelhas. Brasil. Grandes Regiões e Unidades Federadas. 2000 a 2018*
Incidência de acidentes por abelhas. Brasil. Grandes Regiões e Unidades Federadas. 2000 a 2018*
Casos de acidentes por abelhas segundo o mês. Brasil, Grandes Regiões e Unidades Federadas. 2018*
Óbitos por abelhas. Brasil, Grandes Regiões e Unidades Federadas. 2000 a 2018*
Aranhas
Casos de acidentes por aranhas. Brasil, Grandes Regiões e Unidades Federadas. 2000 a 2018*
Incidência de acidentes por aranhas. Brasil, Grandes Regiões e Unidades Federadas. 2000 a 2018*
Casos de acidentes por aranhas segundo o mês. Brasil, Grandes Regiões e Unidades Federadas. 2018*
Óbitos por aranhas. Brasil, Grandes Regiões e Unidades Federadas. 2000 a 2018*
Lagartas
Casos de acidentes por lagartas. Brasil, Grandes Regiões e Unidades Federadas. 2000 a 2018*
Incidência de acidentes por lagartas. Brasil, Grandes Regiões e Unidades Federadas. 2000 a 2018*
Casos de acidentes por lagartas segundo o mês. Brasil, Grandes Regiões e Unidades Federadas. 2018*
Óbitos por lagartas. Brasil, Grandes Regiões e Unidades Federadas. 2000 a 2018*
Serpentes
Casos de acidentes por serpentes. Brasil, Grandes Regiões e Unidades Federadas. 2000 a 2018*
Incidência de acidentes por serpentes. Brasil, Grandes Regiões e Unidades Federadas. 2000 a 2018*
Casos de acidentes por serpentes segundo o mês. Brasil, Grandes Regiões e Unidades Federadas. 2018*
Óbitos por serpentes. Brasil, Grandes Regiões e Unidades Federadas. 2000 a 2018*
Escorpiões
Casos de acidentes por escorpiões. Brasil, Grandes Regiões e Unidades Federadas. 2000 a 2018*
Incidência de acidentes por escorpiões. Brasil, Grandes Regiões e Unidades Federadas. 2000 a 2018*
Casos de acidentes por escorpiões segundo o mês. Brasil, Grandes Regiões e Unidades Federadas. 2018*
Óbitos por escorpiões. Brasil, Grandes Regiões e Unidades Federadas. 2000 a 2018*