LEISHMANIOSE TEGUMENTAR AMERICANA

Nas Américas, são atualmente reconhecidas 11 espécies dermotrópicas de Leishmania causadoras de doença humana e 8 espécies descritas, somente em animais. No entanto, no Brasil, já foram identificadas 7 espécies, sendo 6 do subgênero Viannia e 1 do subgênero Leishmania.

Instrumentos para registro e análise

Ficha de notificação/investigação

O que é Leishmaniose Tegumentar (LT)?

A Leishmaniose Tegumentar é uma doença infecciosa, não contagiosa, que provoca úlceras na pele e mucosas. A doença é causada por protozoários do gênero Leishmania. No Brasil, há sete espécies de leishmanias envolvidas na ocorrência de casos de LT. As mais importantes são: Leishmania (Leishmania) amazonensis, L. (Viannia) guyanensis e L.(V.) braziliensis. A doença é transmitida ao ser humano pela picada das fêmeas de flebotomíneos (espécie de mosca) infectadas.

Os insetos pertencentes à ordem Diptera, família Psychodidae, subfamília Phlebotominae, gênero Lutzomyia, conhecidos popularmente, dependendo da localização geográfica, como mosquito palha, tatuquira e birigui, são os principais vetores da Leishmaniose Tegumentar.

IMPORTANTE: A suscetibilidade de infecção por Leishmaniose Tegumentar (LT) é universal. A infecção e a doença não conferem imunidade ao paciente.

Quais são as espécies da Leishmaniose Tegumentar (LT)?

As três principais espécies de Leishmania, protozoário causador da Leishmaniose Tegumentar (LT), são:

  • Leishmania (Leishmania) amazonensis – distribuída pelas florestas primárias e secundárias da Amazônia legal (Amazonas, Pará, Rondônia, Tocantins e Maranhão). Sua presença amplia-se para o Nordeste (Bahia), Sudeste (Minas Gerais e São Paulo), Centro-oeste (Goiás) e Sul (Paraná);
  • Leishmania (Viannia) guyanensis – aparentemente limitada à Região Norte (Acre, Amapá, Roraima, Amazonas e Pará) e estendendo-se pelas Guianas. É encontrada principalmente em florestas de terra firme, em áreas que não se alagam no período de chuvas;
  • Leishmania (Viannia) braziliensis – foi a primeira espécie de Leishmania descrita e incriminada como agente etiológico da LT. É a mais importante, não só no Brasil, mas em toda a América Latina. Tem ampla distribuição, desde a América Central até o norte da Argentina. Esta espécie está amplamente distribuída em todo país. Quanto ao subgênero Viannia, existem outras espécies de Leishmania recentemente descritas: L. (V) lainsoni identificada nos estados do Pará, Rondônia e Acre; L. (V) naiffi, ocorre nos estados do Pará e Amazonas; L. (V) shawi, com casos humanos encontrados no Pará e Maranhão; L. (V.) lindenberg foi identificada no estado do Pará.

Quais são os sintomas da Leishmaniose Tegumentar (LT)?

Os sintomas da Leishmaniose Tegumentar (LT) são lesões na pele e/ou mucosas. As lesões de pele podem ser única, múltiplas, disseminada ou difusa. Elas apresentam aspecto de úlceras, com bordas elevadas e fundo granuloso, geralmente indolor.

As lesões mucosas são mais frequentes no nariz, boca e garganta. Quando atingem o nariz, podem ocorrer:

  • entupimentos;
  • sangramentos;
  • coriza;
  • aparecimento de crostas;
  • feridas.

Na garganta, os sintomas são:

  • dor ao engolir;
  • rouquidão;
  • tosse.

Como é feito o diagnóstico da Leishmaniose Tegumentar (LT)?

O diagnóstico da Leishmaniose Tegumentar (LT) é feito por métodos parasitológicos. Essa confirmação laboratorial é fundamental, tendo em vista o número de doenças que fazem diagnóstico diferencial com a LT – como, por exemplo, sífilishanseníase e tuberculose.

A utilização de métodos de diagnóstico laboratorial é importante não apenas para a confirmação dos achados clínicos, mas também pode fornecer informações epidemiológicas – por meio da identificação da espécie circulante -, fundamentais para o direcionamento das medidas a serem adotadas para o controle do agravo.

Como a Leishmaniose Tegumentar (LT) é transmitida?

Os vetores da Leishmaniose Tegumentar (LT) são insetos conhecidos popularmente, dependendo da localização geográfica, como mosquito palha, tatuquira, birigui, entre outros. A transmissão da Leishmaniose Tegumentar (LT) ocorre pela picada de fêmeas infectadas desses insetos. São numerosos os registros de infecção em animais domésticos. Entretanto, não há evidências científicas que comprovem o papel desses animais como reservatórios das espécies de leishmanias, sendo considerados hospedeiros acidentais da doença. No homem, o período de incubação, tempo que os sintomas começam a aparecer desde a infecção, é de, em média, 2 a 3 meses, podendo apresentar períodos mais curtos, de 2 semanas, e mais longos, de 2 anos.

Hospedeiros e reservatórios da Leishmaniose Tegumentar (LT)

A interação reservatório-parasito é considerada um sistema complexo, na medida em que é multifatorial, imprevisível e dinâmica, formando uma unidade biológica que pode estar em constante mudança, em função das alterações do meio ambiente. São considerados reservatórios da LT as espécies de animais que garantam a circulação de leishmanias na natureza, dentro de um recorte de tempo e espaço.

Infecções por leishmanias que causam a LT foram descritas em várias espécies de animais silvestres, sinantrópicos e domésticos (canídeos, felídeos e equídeos). Com relação a esse último, seu papel na manutenção do parasito no meio ambiente ainda não foi definitivamente esclarecido.

Reservatórios silvestres da Leishmaniose Tegumentar (LT)

Já foram registrados, como hospedeiros e possíveis reservatórios naturais, algumas espécies de roedores, marsupiais, edentados e canídeos silvestres.

Animais domésticos e a Leishmaniose Tegumentar (LT)

São numerosos os registros de infecção em animais domésticos. Entretanto, não há evidências científicas que comprovem o papel desses animais como reservatórios das espécies de leishmanias, sendo considerados hospedeiros acidentais da doença. A LT nesses animais pode apresentar-se como uma doença crônica, com manifestações semelhantes as da doença humana, ou seja, o parasitismo ocorre preferencialmente em mucosas das vias aerodigestivas superiores.

Coinfecção de Leishmaniose Tegumentar (LT) / HIV

A Leishmaniose Tegumentar (LT) pode modificar a progressão da doença pelo HIV e a imunodepressão causada por esse vírus facilita a progressão da LT. A avaliação do conjunto de manifestações clínicas da LT em pacientes portadores de HIV indica que não existe definição de um perfil clínico que possa ser indiscutivelmente associado à coinfecção.

O diagnóstico da coinfecção com HIV tem implicações na abordagem da leishmaniose em relação ao diagnóstico, à indicação terapêutica e ao monitoramento de efeitos adversos, à resposta terapêutica e à ocorrência de recidivas. Portanto, recomenda-se oferecer a sorologia para HIV para todos os pacientes com LT, independentemente da idade, conforme as recomendações do Ministério da Saúde.

Como é feito o tratamento da Leishmaniose Tegumentar (LT)?

O Sistema Único de Saúde (SUS) oferece tratamento específico e gratuito para a Leishmaniose Tegumentar (LT). O tratamento é feito com uso de medicamentos específicos, repouso e uma boa alimentação.

Curso de Leishmanioses no Brasil: diagnóstico e tratamento

A Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde (SVS/MS), em parceria com a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), está oferecendo o curso “Leishmanioses no Brasil: diagnóstico e tratamento”. O curso é uma estratégia de formação e capacitação para médicos e outros profissionais de saúde para apoiar as ações de vigilância e controle das leishmanioses no país. O curso é gratuito e aplicado na modalidade à distância, e tem duração de cerca de 40 horas.

A capacitação tem como objetivo gerar competências técnicas para o diagnóstico precoce e o tratamento adequado da leishmaniose visceral e tegumentar contribuindo para a melhoria da atenção à população acometida por essas doenças.

Todo o curso está baseado nas normas de diagnóstico e tratamento das leishmanioses nas Américas e no Brasil e seu conteúdo e recomendações estão fundamentados nas evidências científicas no contexto local. Nele, os profissionais poderão se atualizar sobre informações epidemiológicas, diagnóstico laboratorial,  tratamento das leishmanioses visceral e tegumentar, entre outros aspectos.

Podem participar do curso médicos e outros profissionais de saúde responsáveis ou que realizam função de apoio aos pacientes com leishmaniose visceral ou tegumentar ou atuam na gestão aos programas relacionados a essas doenças.

O acesso aos módulos é livre e gratuito, no entanto, para realizar a avaliação de cada módulo e obter o certificado é necessário realizar a inscrição prévia no curso. Após fazer a inscrição será disponibilizado o acesso a um questionário que tem por objetivo contribuir para elaboração de indicadores internos do curso e possibilitar a obtenção de resultados referentes ao processo ensino-aprendizagem.

Em cada módulo serão realizadas avaliações específicas para cada uma das unidades, sendo que, para iniciar a unidade seguinte deve-se alcançar no mínimo 70% de acerto nos exercícios e o êxito depende da aprovação para emissão do certificado. Somente para os profissionais médicos há uma unidade específica de estudos de casos clínicos, que são essenciais para a avaliação das unidades do curso.

Confira abaixo como o conteúdo do curso está distribuído:

Módulo I: Leishmaniose Visceral no Brasil: diagnóstico e tratamento
 Aulas
Unidade 1: Ecoepidemiologia1, 2, 3 e 4
Unidade 2: Imunopatogenia5
Unidade 3: Manifestações clínicas e diagnóstico diferencial6
Unidade 4: Diagnóstico laboratorial7
Unidade 5: Tratamento e acompanhamento do paciente8
 
Módulo II: Leishmaniose Tegumentar no Brasil: diagnóstico e tratamento
 Aulas
Unidade 1: Ecoepidemiologia1, 2, 3 e 4
Unidade 2: Imunopatogenia5
Unidade 3: Manifestações clínicas e diagnóstico diferencial6
Unidade 4: Diagnóstico laboratorial7
Unidade 5: Tratamento e acompanhamento do paciente8

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Distribuição da Leishmaniose Tegumentar (LT) no Brasil e mundo

A Leishmaniose Tegumentar (LT) tem ampla distribuição mundial e no continente americano há registro de casos desde o sul dos Estados Unidos ao norte da Argentina, com exceção do Chile e Uruguai. Em 1909, foi descrita formas de leishmânias em úlceras cutâneas e nasobucofaríngeas em indivíduos que trabalhavam na construção de rodovias no interior de São Paulo. Desde então, a doença vem sendo descrita em vários municípios de todas as Unidades Federadas. Em média, são registrados cerca de 21.000 casos/ano, com coeficiente de incidência de 8,6 casos/100.000 habitantes nos últimos 5 anos. A região Norte apresenta o maior coeficiente (46,4 casos/100.000 habitantes), seguida das regiões Centro-Oeste (17,2 casos/10.000 habitantes) e Nordeste (8 casos/100.000 habitantes).

Como prevenir a Leishmaniose Tegumentar (LT)?

As principais formas de prevenir a Leishmaniose Tegumentar (LT), segundo orientações do Ministério da Saúde, são as seguintes ações direcionadas:

  • População humana: adotar medidas de proteção individual, como usar repelentes e evitar a exposição nos horários de atividades do vetor (crepúsculo e noite) em ambientes onde este habitualmente possa ser encontrado;
  • Vetor: manejo ambiental, por meio da limpeza de quintais e terrenos, para evitar o estabelecimento de criadouros para larvas do vetor;
  • Atividades de educação em saúde: devem ser inseridas em todos os serviços que desenvolvam as ações de vigilância e controle da LT, com o envolvimento efetivo das equipes multiprofissionais e multinstitucionais, para um trabalho articulado nas diferentes unidades de prestação de serviços.

Situação epidemiológica da Leishmaniose Tegumentar (LT)

Publicações sobre Leishmaniose Tegumentar (LT)