A leishmaniose visceral (LV) era, primariamente, uma zoonose caracterizada como doença de caráter eminentemente rural. Mais recentemente, vem se expandindo para áreas urbanas de médio e grande porte e se tornou crescente problema de saúde pública no país e em outras áreas do continente americano, sendo uma endemia em franca expansão geográfica. É uma doença sistêmica, caracterizada por febre de longa duração, perda de peso, astenia, adinamia e anemia, dentre outras manifestações. Quando não tratada, pode evoluir para óbito em mais de 90% dos casos.
Instrumentos para registro e análise
Ficha de notificação/investigação
O que é Leishmaniose Visceral?
A Leishmaniose Visceral (LV) é uma doença causada por um protozoário da espécie Leishmania chagasi. O ciclo evolutivo apresenta duas formas: amastigota, que é obrigatoriamente parasita intracelular em mamíferos, e promastigota, presente no tubo digestivo do inseto transmissor. É conhecida como calazar, esplenomegalia tropical e febre dundun.
A Leishmaniose Visceral é uma zoonose de evolução crônica, com acometimento sistêmico e, se não tratada, pode levar a óbito até 90% dos casos. É transmitida ao homem pela picada de fêmeas do inseto vetor infectado, denominado flebotomíneo e conhecido popularmente como mosquito palha, asa-dura, tatuquiras, birigui, dentre outros. No Brasil, a principal espécie responsável pela transmissão é a Lutzomyia longipalpis.
Esses insetos são pequenos e têm como características a coloração amarelada ou de cor palha e, em posição de repouso, suas asas permanecem eretas e semiabertas. O ciclo biológico do vetor ocorre no ambiente terrestre e passa por quatro fases: ovo, larva, pupa e adulto (forma alada). Desenvolvem-se em locais úmidos, sombreados e ricos em matéria orgânica (folhas, frutos, fezes de animais e outros entulhos que favoreçam a umidade do solo). O desenvolvimento do ovo à fase adulta ocorre em cerca de 30 dias. As formas adultas abrigam-se nos mesmos locais dos criadouros e em anexos peridomiciliares, principalmente em abrigos de animais domésticos.
Somente as fêmeas se alimentam de sangue, pois necessitam de sangue para o desenvolvimento dos ovos, o que justifica o fato de sugarem uma ampla variedade de animais vertebrados. A alimentação é predominantemente noturna. Tanto o macho quanto a fêmea tendem a não se afastar muito de seus criadouros ou locais de abrigo, podendo se deslocar até cerca de um quilômetro, com a expressiva maioria não indo além dos 250 metros.
Raposas (Lycalopex vetulus e Cerdocyon thous) e marsupiais (Didelphis albiventris), têm sido incriminados como reservatórios silvestres. No ambiente urbano, o cão é a principal fonte de infecção para o vetor, podendo desenvolver os sintomas da doença, que são: emagrecimento, queda de pêlos, crescimento e deformação das unhas, paralisia de membros posteriores, desnutrição, entre outros.
Quais são os sintomas da Leishmaniose Visceral?
A Leishmaniose Visceral é uma doença infecciosa sistêmica. Os principais sintomas da doença são:
- febre de longa duração;
- aumento do fígado e baço;
- perda de peso;
- fraqueza;
- redução da força muscular;
- anemia.
Como a Leishmaniose Visceral é transmitida?
A Leishmaniose Visceral é transmitida por meio da picada de insetos conhecidos popularmente como mosquito palha, asa-dura, tatuquiras, birigui, dentre outros. Estes insetos são pequenos e têm como características a coloração amarelada ou de cor palha e, em posição de repouso, suas asas permanecem eretas e semiabertas.
A transmissão acontece quando fêmeas infectadas picam cães ou outros animais infectados, e depois picam o homem, transmitindo o protozoário Leishmania chagasi, causador da Leishmaniose Visceral.
- Inclusão de nova chave de identificação de flebotomíneos na rotina dos Laboratórios Estaduais de Entomologia
- Documento produzido pela Fundação Ezequiel Dias contendo instruções para execução do teste rápido imunocromatográfico IT Leish para o diagnóstico da leishmaniose visceral humana
- Vídeo produzido pela Fundação Ezequiel Dias sobre a realização do teste rápido It leish para o diagnóstico da leishmaniose visceral humana
Como é feito o diagnóstico da Leishmaniose Visceral?
O diagnóstico da leishmaniose visceral pode ser realizado por meio de técnicas imunológicas e parasitológicas.
Diagnóstico imunológico
Baseia-se na detecção de anticorpos anti Leishmania. Existem diversas provas que podem ser utilizadas no diagnóstico da LV, e dentre elas podemos citar duas técnicas disponibilizadas pelo Sistema Único de Saúde.
i. Reação de Imunofluorescência Indireta (RIFI) – consideram-se como positivas as amostras reagentes a partir da diluição de 1:80. Nos títulos iguais a 1:40, com clínica sugestiva de LV, recomenda-se a solicitação de nova amostra em 30 dias.
ii. Teste rápido imunocromatográfico – são considerados positivos quando a linha controle e a linha teste C e/ou G aparecem na fita ou plataforma (conforme Nota Informativa Nº 3/2018-CGLAB/DEVIT/SVS/MS
É importante ressaltar que títulos (anticorpos) variáveis dos exames sorológicos podem persistir positivos por longo período, mesmo após o tratamento. Assim, o resultado de um teste positivo, na ausência de manifestações clínicas, não autoriza a instituição de terapêutica.
Diagnóstico parasitológico
É o diagnóstico de certeza feito pelo encontro de formas amastigotas do parasito, em material biológico obtido preferencialmente da medula óssea – por ser um procedimento mais seguro. Examinar o material aspirado de acordo com esta sequência: exame direto, isolamento em meio de cultura (in vitro), isolamento em animais suscetíveis (in vivo), bem como novos métodos de diagnóstico. Outras amostras biológicas podem ser utilizadas tais como o linfonodo ou baço. Este último deve ser realizado em ambiente hospitalar e em condições cirúrgicas.
Mais informações sobre o diagnóstico da leishmaniose visceral clique aqui
Como é feito o tratamento da Leishmaniose Visceral?
Apesar de grave, a Leishmaniose Visceral tem tratamento para os humanos. Ele é gratuito e está disponível na rede de serviços do Sistema Único de Saúde (SUS). Os medicamentos utilizados atualmente para tratar a LV não eliminam por completo o parasito nas pessoas e nos cães.
No entanto, no Brasil o homem não tem importância como reservatório, ao contrário do cão – que é o principal reservatório do parasito em área urbana. Nos cães, o tratamento pode até resultar no desaparecimento dos sinais clínicos, porém eles contimuam como fontes de infecção para o vetor, e, portanto um risco para saúde da população humana e canina.
Neste caso, eutanásia é recomendada como uma das formas de controle da Leishmaniose Visceral, mas deve ser realizada de forma integrada às demais ações recomendadas pelo Ministério da Saúde.
- Parecer da Advocacia Geral da União com orientações em caso de descumprimento da Portaria GM/MS 1.426, de 11 de julho de 2008.
- Leishmaniose Visceral: Está em vigor a Portaria nº 1.426/2008 proibindo o tratamento canino da LV
- Portaria interministerial no. 1426 de 11 de julho de 2008
- Orientações para uso racional do medicamento anfotericina B lipossomal
- Ficha de solicitação de anfotericina B lipossomal para paciente com leishmaniose visceral
- Nota sobre novos critérios para uso da anfotericina B lipossomal para o tratamento da leishmaniose visceral
- Leishmanioses nas Américas: recomendações para o tratamento
- Folder sobre o curso de ensino a distância “Leishmanioses: Diagnóstico e tratamento”
- Manual de leishmaniose visceral: recomendações clínicas para a redução da letalidade
- Manual de recomendações para diagnóstico, tratamento e acompanhamento de pacientes com coinfecção Leishmania-HIV
Curso de Leishmanioses no Brasil: diagnóstico e tratamento
A Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde (SVS/MS), em parceria com a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), está oferecendo o curso “Leishmanioses no Brasil: diagnóstico e tratamento”. O curso é uma estratégia de formação e capacitação para médicos e outros profissionais de saúde para apoiar as ações de vigilância e controle das leishmanioses no país. O curso é gratuito e aplicado na modalidade à distância, e tem duração de cerca de 40 horas.
A capacitação tem como objetivo gerar competências técnicas para o diagnóstico precoce e o tratamento adequado da leishmaniose visceral e tegumentar contribuindo para a melhoria da atenção à população acometida por essas doenças.
Todo o curso está baseado nas normas de diagnóstico e tratamento das leishmanioses nas Américas e no Brasil e seu conteúdo e recomendações estão fundamentados nas evidências científicas no contexto local. Nele, os profissionais poderão se atualizar sobre informações epidemiológicas, diagnóstico laboratorial, tratamento das leishmanioses visceral e tegumentar, entre outros aspectos.
Podem participar do curso médicos e outros profissionais de saúde responsáveis ou que realizam função de apoio aos pacientes com leishmaniose visceral ou tegumentar ou atuam na gestão aos programas relacionados a essas doenças.
O acesso aos módulos é livre e gratuito, no entanto, para realizar a avaliação de cada módulo e obter o certificado é necessário realizar a inscrição prévia no curso. Após fazer a inscrição será disponibilizado o acesso a um questionário que tem por objetivo contribuir para elaboração de indicadores internos do curso e possibilitar a obtenção de resultados referentes ao processo ensino-aprendizagem.
Em cada módulo serão realizadas avaliações específicas para cada uma das unidades, sendo que, para iniciar a unidade seguinte deve-se alcançar no mínimo 70% de acerto nos exercícios e o êxito depende da aprovação para emissão do certificado. Somente para os profissionais médicos há uma unidade específica de estudos de casos clínicos, que são essenciais para a avaliação das unidades do curso.
Confira abaixo como o conteúdo do curso está distribuído:
Módulo I: Leishmaniose Visceral no Brasil: diagnóstico e tratamento | |
Aulas | |
Unidade 1: Ecoepidemiologia | 1, 2, 3 e 4 |
Unidade 2: Imunopatogenia | 5 |
Unidade 3: Manifestações clínicas e diagnóstico diferencial | 6 |
Unidade 4: Diagnóstico laboratorial | 7 |
Unidade 5: Tratamento e acompanhamento do paciente | 8 |
Módulo II: Leishmaniose Tegumentar no Brasil: diagnóstico e tratamento | |
Aulas | |
Unidade 1: Ecoepidemiologia | 1, 2, 3 e 4 |
Unidade 2: Imunopatogenia | 5 |
Unidade 3: Manifestações clínicas e diagnóstico diferencial | 6 |
Unidade 4: Diagnóstico laboratorial | 7 |
Unidade 5: Tratamento e acompanhamento do paciente | 8 |
Acesse os cursos:
- Leishmanioses no Brasil: diagnóstico e tratamento – Módulo I (Leishmaniose visceral)
- Leishmanioses no Brasil: diagnóstico e tratamento – Módulo II (Leishmaniose tegumentar)
Distribuição da Leishmaniose Visceral no Brasil e no mundo
É endêmica em 76 países e, no continente americano, está descrita em pelo menos 12. Dos casos registrados na América Latina, 90% ocorrem no Brasil. Em 1913 é descrito o primeiro caso em necropsia de paciente oriundo de Boa Esperança, Mato Grosso. Em 1934, 41 casos foram identificados em lâminas de viscerotomias praticadas post-mortem, em indivíduos oriundos das Regiões Norte e Nordeste, com suspeita de febre amarela. A doença, desde então, vem sendo descrita em vários municípios brasileiros, apresentando mudanças importantes no padrão de transmissão, inicialmente predominando em ambientes silvestres e rurais e mais recentemente em centros urbanos. Em média, cerca de 3.500 casos são registrados anualmente e o coeficiente de incidência é de 2,0 casos/100.000 habitantes. Nos últimos anos, a letalidade vem aumentando gradativamente, passando de 3,1% em 2000 para 7,1% em 2012
Como prevenir a Leishmaniose Visceral?
A prevenção da Leishmaniose Visceral ocorre por meio do combate ao inseto transmissor. É possível mantê-lo longe, especialmente com o apoio da população, no que diz respeito à higiene ambiental. Essa limpeza deve ser feita por meio de:
- Limpeza periódica dos quintais, retirada da matéria orgânica em decomposição (folhas, frutos, fezes de animais e outros entulhos que favoreçam a umidade do solo, locais onde os mosquitos se desenvolvem).
- Destino adequado do lixo orgânico, a fim de impedir o desenvolvimento das larvas dos mosquitos.
- Limpeza dos abrigos de animais domésticos, além da manutenção de animais domésticos distantes do domicílio, especialmente durante a noite, a fim de reduzir a atração dos flebotomíneos para dentro do domicílio.
- Uso de inseticida (aplicado nas paredes de domicílios e abrigos de animais). No entanto, a indicação é apenas para as áreas com elevado número de casos, como municípios de transmissão intensa (média de casos humanos dos últimos 3 anos acima de 4,4), moderada (média de casos humanos dos últimos 3 anos acima de 2,4) ou em surto de leishmaniose visceral.
No entanto, não existem estudos que comprovem a efetividade do uso dessa vacina na redução da incidência da leishmaniose visceral em humanos. Dessa forma, o seu uso está restrito à proteção individual dos cães e não como uma ferramenta de saúde pública.
Vacinação e a Leishmaniose Visceral
Atualmente existe uma vacina antileishmaniose visceral canina em comercialização no Brasil. Os resultados do estudo apresentado pelo laboratório produtor da vacina atendeu às exigências da Instrução Normativa Interministerial n° 31 de 09 de julho de 2007, o que resultou na manutenção de seu registro pelo Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento. No entanto, não existem estudos que comprovem a efetividade do uso dessa vacina na redução da incidência da leishmaniose visceral em humanos. Dessa forma, o seu uso está restrito à proteção individual dos cães e não como uma ferramenta de Saúde Pública.
A vacina está indicada somente para animais assintomáticos com resultados sorológicos não reagentes para leishmanioses visceral. Cabe destacar que o imunobiológico não é o único instrumento de prevenção individual da leishmaniose visceral canina (LVC) e que outras medidas devem ser adotadas, conforme normatização do Ministério da Saúde. Os animais que apresentarem sinais clínicos compatíveis com LVC e/ou reações sorológicas reagentes estarão passíveis das medidas sanitárias vigentes.
Situação epidemiológica da Leishmaniose Visceral
- Sala de Apoio à Gestão Estratégica – Dados – Leishmaniose Visceral
- LV – Casos
- LV – Gráficos e Mapas
- LV – Coeficiente de Incidência
- LV – Letalidade
- LV – Óbitos
Publicações sobre a Leishmaniose Visceral
- Nota Informativa_Plano de Ação Municipal daLeishmaniose VisceralLeishmaniose Visceral
- Nota Informativa Nº3/2018: Diagnóstico da leishmaniose visceral humana no Sistema Único de Saúde(SUS)
- EAD: Vigilância, Prevenção, Atenção e Controle da Leishmaniose Visceral
- Manual de Vigilância e Controle da Leishmaniose Visceral
- Manual de Leishmaniose Visceral : recomendações clínicas para redução da letalidade
- Manual de recomendações para Diagnóstico, Tratamento e Acompanhamento de pacientes com a Coinfecção Leishmania -HIV
- Gibi da saúde – Guarda responsável de animais
- Folder – Leishmaniose visceral
- Encuentro sobre vigilancia, prevención y control de leishmaniasis visceral (LV) en el Cono Sur de Sudamérica – Foz do Iguazú, Brasil, 23 de septiembre de 2009
- Consulta de expertos OPS/OMS sobre leishmaniasis visceral em las Américas – Brasilia, Brazil – 23 al 25 de noviembre de 2005
- Report of a meeting of the WHO Expert Committee on the Control of Leishmaniases, Geneva, 22–26 March 2010
- Leishmanioses nas Américas: recomendações para o tratamento
- Curso EAD de Leishmaniose visceral no Brasil: Diagnóstico e Tratamento
- Nota sobre novos critérios para uso da anfotericina B lipossomal para o tratamento da leishmaniose visceral
- Decisão do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA) frente à vacina Leishmune
- Inclusão de nova chave de identificação de flebotomíneos na rotina dos Laboratórios Estaduais de Entomologia
- Documento produzido pela Fundação Ezequiel Dias contendo instruções para execução do teste rápido imunocromatográfico IT Leish para o diagnóstico da leishmaniose visceral humana
- Vídeo produzido pela Fundação Ezequiel Dias sobre a realização do teste rápido It leish para o diagnóstico da leishmaniose visceral humana
- Nota Informativa: Informa sobre o tratamento de cães com leishmaniose visceral e sua implicação nas ações de vigilância e controle dessa doença em humanos
Viajantes e a Leishmaniose Visceral
Ao circular por áreas onde ocorrem casos de leishmaniose visceral, ao sentir sintomas da doença: febre de longa duração, aumento do fígado e baço (hepatoesplenomegalia), perda de peso, fraqueza, redução da força muscular, entre outras manifestações, devem procurar o serviço de saúde mais próximo o quanto antes. O diagnóstico e o tratamento precoce evitam o agravamento da doença, que pode ser fatal se não for tratada.
A transmissão ocorre quando fêmeas de insetos flebotomíneos infectados picam cães ou outros animais infectados e depois pica o homem transmitindo o protozoário Leishmania chagasi.